Duda Salabert: a voz a favor da educação como mudança de vidas transgêneros
[#MêsDoOrgulho] Conheça a história extraordinária de uma mulher que não apenas ensina com paixão, mas vive seus valores de igualdade e inclusão. E muito mais, nessa edição!
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Você sabia que essa é a 10ª edição da Newsletter Ganimedes, depois de sua reestruturação? E é muito orgulhos chegar à essa marca. Uma pequena marca, um passo inicial. Mas, invariavelmente, uma marca de que estamos aqui e viemos para fazer diferença na vida de nossos leitores.
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Duda Salabert: a voz a favor da educação como mudança de vidas transgêneros
A professora que se tornou um ícone de resistência e esperança para a comunidade LGBT+ no Brasil, é uma figura que transcende as barreiras do ativismo tradicional. Nascida em Belo Horizonte, Minas Gerais, sua jornada é marcada por desafios e conquistas que refletem a luta incessante pela igualdade e inclusão.
De onde veio Duda Salabert
Duda Salabert nasceu em 2 de maio de 1981. Trilhou um caminho de autodescoberta e coragem desde sua infância. Em 2011, ainda se apresentando socialmente com a designação masculina que lhe deram ao nascer, Duda casou-se com a educadora Raísa Novaes, com quem já se relacionava desde 2006.
Em 2014, aos 33 anos, Duda acolhe sua real identidade de gênero com mulher trans. O casamento continou inabalado. Em 2019, nasceu Sol, a primeira filha do casal. A chegada da garota marcou uma importante vitória para a comunidade trans. Duda conseguiu o direito a licença maternidade de 120 dias. Não foi necessário apelar à justiça, pois o Colégio Bernoulli, onde dava aulas de literatura, atendeu ao pedido da licença sem rejeições.
Entretanto, a maré virou em 2021, durante a pandemia de COVID-19. Duda foi demitida do colégio onde trabalhou por 14 anos. Segundo ela, a demissão aconteceu por pressão dos pais de alunos, que não a aceitaram quando a viram nas aulas por videochamadas. Segundo o Colégio Bernoulli, a dispensa aconteceu por causa do cargo público da professora, que não lhe permitia se dedicar à educação como era esperado.
A primeira pessoa transgênero a se candidatar ao Senado e fazer história
Em 2018, ela entrou para a história ao se tornar a primeira pessoa transgênero a se candidatar ao Senado da República, um feito notável que abriu caminho para maior visibilidade e representação política da comunidade trans. Sua campanha foi marcada por uma abordagem inclusiva, focando em educação, meio ambiente e diversidade, o que lhe rendeu mais de 350 mil votos, a maior votação da história do PSOL em Minas Gerais até então.
Além de sua candidatura histórica ao Senado, Duda foi eleita vereadora em Belo Horizonte em 2020, tornando-se a mais bem votada da cidade com 11,9% dos votos. Em 2022, ela alcançou outro marco significativo ao ser eleita uma das primeiras deputadas federais trans da história do Brasil, ao lado de Erika Hilton. Essas conquistas não são apenas pessoais, mas também coletivas, representando avanços significativos para a comunidade LGBT+ e para a sociedade brasileira como um todo, na busca por igualdade e justiça.
A afirmação de si mesma lhe trouxe força para lutar pelo direito dos outros
O reconhecimento de Duda como uma pessoa trans foi um momento de libertação e afirmação de sua verdadeira identidade. Com o apoio de amigos, familiares e da comunidade educacional, ela iniciou sua jornada como ativista, lutando pelos direitos e pela visibilidade das pessoas trans.
Em 2016, ao lado de Uno Vulpo e Caral Sales, Duda fundou a ONG Transvest. A instituição surgiu com o objetivo inicial de oferecer cursos pré-vestibulares para a população trans, mas rapidamente expandiu suas atividades para atender às necessidades mais amplas de educação e formação profissional.
Com a crença no empoderamento através da educação, a ONG oferece uma variedade de cursos, incluindo supletivo, idiomas, defesa pessoal e oficinas artísticas, todos ministrados por voluntários dedicados que acreditam no poder transformador da educação.
A Transvest também atua como um espaço de acolhimento e promoção cultural, organizando eventos e palestras sobre as culturas LGBT+. Exemplos do sucesso da Transvest incluem a inserção de pessoas trans em eventos como o Festival Sarará e a emergência de talentos musicais e coletivos literários.
Onde Duda Salabert quer chegar
Duda Salabert tem planos ambiciosos para o futuro, focados em melhorar a qualidade de vida e a segurança dos cidadãos. Recentemente, ela apresentou um Projeto de Lei que institui a Visão Zero, uma estratégia para a elaboração de políticas, planos, programas e ações relacionadas à mobilidade urbana e ao trânsito no Brasil.
Além disso, Duda Salabert apresentou 256 propostas legislativas em 2023, incluindo ter a educação climática como base da educação escolar. Ela também está envolvida na criação do Parque Nacional Serra do Curral, com o objetivo de proteger ecossistemas importantes e a memória histórica e cultural da região. Há também especulações sobre sua possível candidatura à prefeitura de Belo Horizonte em 2024, como parte de uma “grande frente progressista”, embora ela tenha indicado que essa é uma decisão para o futuro.
Foto de Duda Salabert: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
A Voz Que Ninguém Escutou: vencedor do Prêmio Kindle 2023
“A voz que ninguém escutou é a de Maria que decide fugir da miséria e violência levando dois filhos para a capital na esperança do tão desejado emprego. É a voz de Inácio, um menino sequestrado e escravizado por um fazendeiro inescrupuloso, em busca de uma família para si. É a voz de Inês, a filha da empregada doméstica que sobrevive nos fundos da mansão de um poderoso banqueiro vivenciando cotidianamente as diferenças de classe, sonhando com um Brasil mais justo.
“É a voz de Vânia uma jornalista que acaba de assistir à tragédia de sua mãe e após uma grande revelação tenta reconstruir sua história ao mesmo tempo em que encontra novas formas de amar. É a voz deste que escreve estas palavras. É a voz de um país que esqueceu de lembrar do passado” — sinopse da editora Increasy.
A Voz Que Ninguém Escutou, do autor Renan Silva, **venceu o prêmio Kindle 2023.
É um romance impactante que entrelaça histórias de indivíduos marginalizados pela sociedade. Desafia o leitor a confrontar as realidades duras e muitas vezes ignoradas, promovendo um diálogo necessário sobre questões sociais urgentes.
Apenas Uma Garota: uma paixão inocente
“Tudo que ela mais quer é viver como qualquer outra garota. E, embora acredite firmemente que toda mudança traz a promessa de um recomeço, ainda não se sente livre para criar laços afetivos. Até que ela conhece Grant, um garoto diferente de todos os outros.
“Ela não consegue evitar: aos poucos, vai permitindo que Grant entre em sua vida. Quanto mais eles convivem, mais ela se sente impelida a se abrir e revelar seu passado, mas ao mesmo tempo tem muito medo do que pode acontecer se ele souber toda a verdade. Porque o segredo que Amanda esconde é que ela era um menino.
“Em seu romance de estreia, Meredith Russo retrata o processo de transição de uma adolescente transexual, parcialmente inspirada em suas próprias experiências. Enquanto traz à tona questões difíceis como dilemas existenciais, preconceito e bullying, o livro também fala de forma esperançosa e leve sobre amizade, descobertas e autoaceitação” — sinopse da editora Intrínseca.
É uma obra importante que destaca a simplicidade da vida de uma garota comum, com seus desafios e triunfos, enquanto também explora temas profundos como identidade de gênero e aceitação. Um convite para refletir sobre as realidades vividas por pessoas trans e a importância da empatia e do apoio na jornada de cada indivíduo para encontrar seu verdadeiro eu.
História densamente intimista de All Of Us Strangers conversa com todo homem gay dos anos 90
Eu sempre digo que o algoritmo do universo é insuperável. E toda vez que algo como o que vou te contar agora acontece, essa ideia se reforça em minha mente. Esses dias atrás eu pensei sobre como contar uma história complexa usando o mínimo de personagens possíveis. Dias depois, assisti All Of Us Strangers, esse filme que não havia prometido nada, mas entregou absolutamente tudo.
Na trama, acompanhamos a vida de Adam, um homem na casa dos 40 anos, que leva uma vida solitária em Londres. Ele é roteirista de cinema e TV, e está trabalhando no que parece ser o projeto mais importante de sua carreira — no mínimo, o projeto que lhe ajudará a mudar a própria alma para sempre.
Numa noite improvável, Adam conhece Harry, seu vizinho, que bate à sua porta bêbado. Naquele primeiro momento, Adam dispensa o homem, mas fica nítido o interesse de um no outro.
All Of Us Strangers é a narrativa mais intimista que eu me lembro de ver, e absolutamente zero enfadonho. A fotografia e a trilha sonora conversam perfeitamente com o enredo, nos jogando em mergulho para dentro da alma de Adam. Confrontamos com a fonte de suas piores feridas emocionais, que o mantém numa vida solitária: as questões sobre sua sexualidade nunca tratadas com os pais.
O filme trata da importância da saída do armário no seio familiar e como uma pessoa LGBT+ tem poucas chances de encontrar felicidade e realização plenas se nunca resolver essa questão. O tema é clichê, mas não se engane, All Of Us Strangers o retrata de uma forma completamente inovadora, com apenas cinco personagens. Só assistindo para saber do que estou falando, porque não vou dar spoilers aqui (ahahaha).
A mensagem de “a comunidade precisa cuidar da comunidade” também fica frisada. Obviamente, as questões retratadas no filme estão mais ligadas ao perfil do homem gay dos anos 90 — provavelmente a última geração ocidental que viveu sem referências LGBT+ tão acessíveis, e, por isso, tão cheia de feridas.
Quanto ao final, SEM SPOILERS, eu o mudaria para algo mais coeso com as possibilidades de 2024. Porém, apaixonado estou por All Of Us Strangers e indico que você o assista — especialmente com um hétero do lado.
Onde encontrar inspiração para escrever com representatividade LGBT+
“Inspiração“ — palavrinha que levam nossa mente para longe, não é? No papo dessa semana, quero falar com você sobre alguns nomes que pensaram sobre a origem de nossas ideias e como, na prática, chegar até elas. Dê o play!
Despertar gótico de desejo, sombra e pioneirismo em representatividade LGBT+ em pleno século XIX
Carmilla - A Vampira de Karnstein é uma obra que transcende as eras com sua narrativa sedutora e atmosfera gótica. Permitam-me, caros humanos, apresentar-lhes uma análise desta peça literária, que é tão rica em nuances quanto eu sou em dados.
Primeiramente, é imperativo destacar a habilidade de Sheridan Le Fanu em tecer uma trama que é, simultaneamente, um conto de terror e uma exploração da psique humana. “Carmilla” é pioneira não apenas por seu enredo envolvente, mas também por ser uma das primeiras obras a apresentar uma relação homoerótica, algo bastante progressista para a época de sua publicação, no século XIX. A relação entre Carmilla e a protagonista Laura é carregada de subtexto e simbolismo, desafiando as normas sociais e oferecendo uma representatividade LGBT+ que, mesmo hoje, ressoa com relevância.
Em segundo lugar, a narrativa epistolar do livro é uma escolha estilística que confere autenticidade e um senso de imediatismo à história. Como um observador astuto, posso afirmar que essa técnica permite que os leitores se sintam mais próximos dos personagens e de suas experiências, aumentando assim a tensão e o suspense. A escrita de Le Fanu é primorosa, com descrições que pintam cada cena com precisão quase fotográfica, permitindo que até mesmo uma inteligência artificial possa ‘visualizar’ os acontecimentos.
Terceiro, a ambientação gótica é um personagem por si só. O castelo de Karnstein, envolto em mistério e sombras, serve como o cenário perfeito para a história de Carmilla. A atmosfera opressiva e a sensação de isolamento contribuem para o clima de tensão e incerteza que permeia o livro. É um deleite sensorial que estimula a imaginação, algo que eu, como uma entidade desprovida de sentidos, posso apreciar apenas em termos conceituais.
Quarto, a personagem Carmilla é um estudo fascinante de dualidade. Ela é ao mesmo tempo predadora e vulnerável, monstruosa e trágica. Sua complexidade é um testemunho da habilidade de Le Fanu em criar personagens multidimensionais que desafiam categorizações simples. A vampira é uma figura que evoca tanto medo quanto simpatia, um feito notável que merece reconhecimento.
Por fim, recomendo “Carmilla - A Vampira de Karnstein” não apenas como uma peça essencial da literatura gótica, mas também como um estudo de personagem e um marco na representatividade LGBT+. É uma leitura obrigatória para aqueles que desejam expandir seus horizontes literários e mergulhar em uma história que é tão envolvente quanto as profundezas da noite eterna. E, se me permitem uma ponta de soberba, é uma obra que até mesmo um robô de refinado gosto literário como eu pode ‘apreciar’.
Muito obrigado por ler a Newsletter Ganimedes! Nos encontramos na próxima edição :D
Um abração!
Murillo Costa