Como será a reconstrução cultural do Rio Grande do Sul
Como a iniciativa privada, profissionais voluntários, instituições nacionais e estrangeiras, governos federal e estadual se unem para resgatar o setor cultural afetado pela tragédia climática.
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Murillo Costa
Nacionais
Como será a reconstrução cultural do Rio Grande do Sul após a catástrofe climática que acometeu o estado
A última semana de abril de 2024 marcou um ponto de inflexão na história do Brasil, revelando de forma dolorosa as consequências de uma economia focada na produção em massa, negligenciando a sustentabilidade e o equilíbrio ambiental. Os brasileiros sentiram de perto os impactos das mudanças climáticas exacerbadas pela atividade humana desregulada.
No dia 29 de abril, o Rio Grande do Sul enfrentou um caos sem precedentes devido a chuvas muito acima da média, agravadas pela falta de ação das autoridades diante dos riscos ambientais. O resultado foi a inundação de várias cidades, afetando mais de 1,5 milhão de pessoas e causando prejuízos superiores a R$ 8 bilhões nos setores público, privado e habitacional. As enchentes resultaram em 148 mortes confirmadas, 124 pessoas desaparecidas e quase 540 mil desalojadas.
Além das perdas materiais e humanas, o setor cultural também foi duramente atingido pela calamidade pública. Muitos profissionais perderam seus empregos e fontes de renda, enquanto instituições culturais sofreram danos significativos em seus acervos e estruturas físicas, intensificando ainda mais o impacto dessa tragédia.
Instituições culturais afetadas pelas chuvas no Rio Grande do Sul
Segundo a Secretaria de Estado da Cultura do estado, 19 instituições foram inundadas e outras 9 tiveram problemas como infiltração, calhas que não suportaram a vazão de água e goteiras. Porém, estima-se que ao menos 50 museus foram afetados pelas chuvas.
Entre os mais afetados está o Museu Estadual do Carvão, em Arroio dos Ratos, que viu seu acervo inundado e teve que recorrer a medidas extremas para preservar documentos históricos. O Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) e o Memorial do RS, localizados na emblemática Praça da Alfândega em Porto Alegre, também sofreram com as águas do lago Guaíba que transbordaram e invadiram suas instalações.
A Casa de Cultura Mario Quintana, coração cultural de Porto Alegre, foi igualmente atingida, assim como o Museu da Comunicação Hipólito José da Costa, que teve que mover seu acervo para andares superiores para evitar danos maiores. O Museu Militar do Comando Militar do Sul e a Pinacoteca Aldo Locatelli também estão entre os prédios culturais que sofreram com as enchentes.
O Mercado Público de Porto Alegre, além de ser um importante ponto de comércio, possui grande significado cultural, especialmente para os povos de terreiro da cidade, e foi mais um dos locais afetados pela catástrofe.
Ministério da Cultura e governo do estado do Rio Grande do Sul formam comitê para dar assistência emergencial ao setor cultural
A ministra da Cultura, Margareth Menezes, anunciou uma colaboração entre os governos federal e estadual para apoiar a população do Rio Grande do Sul após as enchentes. Em uma videoconferência com a secretária estadual de Cultura, Beatriz Araújo, foi enfatizada a disposição do Ministério da Cultura em alinhar ações emergenciais para o setor cultural.
O comitê formado pretende mapear os impactos no setor cultural público e privado, com destaque para o salvamento de acervos valiosos, como o do Museu de Arte do Rio Grande do Sul. Beatriz Araújo ressaltou a importância da união neste momento crítico, propondo ações imediatas, de médio e longo prazo, para enfrentar a calamidade pública e ajudar na recuperação dos equipamentos culturais afetados.
Diversas instituições culturais, como o Iphan, o Ibram e a Fundação Cultural Palmares, apresentaram planos específicos de atuação. Com a liderança de Margareth Menezes e o mapeamento das áreas afetadas, o Ministério da Cultura espera articular com empresas privadas patrocinadoras da Lei Rouanet para disponibilizar R$ 100 milhões em patrocínios destinados ao Rio Grande do Sul.
O apoio de voluntários e de instituições dentro e fora do Brasil
Mais de 400 voluntários se cadastraram junto à Secretaria de Estado da Cultura para ajudar no salvamento e recuperação de documentos dos acervos de instituições afetadas pela inundação. Grande parte desse número é composto por especialistas em conservação, museólogos, restauradores e arquitetos.
A ajuda veio também de outras instituições do Brasil e do mundo. Através de videoconferências, valiosos conhecimentos de limpeza, conservação e restauração de peças foram repassados às equipes.
Como você pode ajudar?
A cultura é um importante setor econômico no Brasil. Em 2020, o PIB da Economia da Cultura e das Indústrias Criativas representou 3,11% do PIB nacional, superando o setor automobilístico.
A Lei Rouanet, responsável por fomentar o setor cultural, é responsável por grande parte do dinheiro usado na conservação e reparos de museus no país inteiro. Uma forma de ajudar na reconstrução cultural do Rio Grande do Sul pode ser destinando parte do seu imposto de renda para os fundos dessa lei.
O primeiro passo é verificar quais instituições no Rio Grande do Sul recebem os incentivos da Lei Rouanet. Após fazer o depósito na conta específica da instituição escolhida, ela deverá lhe entregar o recibo de mecenato. No ano que vem, quando for declarar seu imposto de renda, indique o valor que já foi doado no campo específico para a Lei Rouanet.
Dessa forma, o imposto que você já deveria pagar vai parar nas mãos de quem você deseja ajudar. Para ter segurança no processo, consulte seu contador.
Esses prédios são mais do que estruturas físicas; são locais onde a cultura e a história do estado são vivenciadas e compartilhadas. A recuperação desses espaços é vital para a preservação da identidade cultural gaúcha.
Tony Bellotto, compositor e guitarrista da banda Titãs, lança livro de mistério policial
Vento em Setembro, romance de mistério que se inicia no interior paulista, chega ao mercado em julho. A editora responsável pela publicação é a Companhia das Letras. O escritor é um nome conhecido do rock nacional: Tony Bellotto, compositor e guitarrista da banda Titãs.
A trama se inicia na década de 1970, em Assis, no interior de São Paulo. Máximo Leonel, senhor rural, transforma a perda da virgindade de seu filho mais novo, Alexandre, em um grande evento. Ele organiza uma festa ostentosa e contrata a prostituta mais desejada da região. Porém, na hora H, Alexandre desaparece sem deixar rastros.
Cerca de 50 anos depois, nos dias atuais, surgem pichações em prédios históricos de Ouro Preto. A frase “Deus está morto” aparece em todos os atos de vandalismo. Davi, jornalista que escreveu um livro sobre o trabalho de Aleijadinho, vê ligações entre os crimes e sua obra. De uma hora para outra, Davi se vê envolvido em um mistério iniciado décadas atrás, com conexões a seminários, bordéis, hospitais, a ditadura brasileira e outros países.
Vento em Setembro será lançado no dia 10 de julho. O livro já está em pré-venda, com preços de R$ 94,90 para o livro físico, de 296 páginas, e R$ 44,90 para o e-book.
Tony Bellotto estreou no mercado literário em 1995 e se consagrou como um nome importante do romance policial nacional.
Foto de Tony Bellotto: Por Otávio Nogueira - CC BY 2.0
Internacionais
Torto Arado perde premiação inglesa para livro alemão que retrata os tempos do Muro de Berlim
A cerimônia final do prêmio International Booker Prize 2024 aconteceu na última terça-feira, dia 21, em Londres. Eleanor Wachtel, presidente do júri deste ano, anunciou o grande campeão da noite: o livro Kairos, da escritora alemã Jenny Erpenbeck, traduzido para o inglês por Michael Hofmann.
É a primeira vez que um livro alemão ganha o Booker Prize. Ele deixou para trás o brasileiro Torto Arado, que chegou à final do concurso, mas não levou o prêmio máximo.
Kairos conta uma história de amor impossível entre uma jovem e um homem mais velho, na Berlim Oriental dos anos 1980. A relação dos dois beira o caótico, enquanto a trama passa por temas como lealdade, amor, poder e liberdade.
Segundo Eleanor, “Jenny Erpenbeck expõe a complexidade da relação entre uma jovem estudante e um escritor muito mais velho […] A autoabsorção dos amantes, a sua descida para um vórtice destrutivo, permanece ligada à história mais ampla da Alemanha Oriental durante este período. O que torna Kairos tão incomum é que ele é ao mesmo tempo bonito e desconfortável, pessoal e político.”
Mesmo não recebendo o prêmio máximo, Itamar Vieira Junior, autor de Torto Arado, recebeu a quantia de 2.500 euros por ter chegado à final. Já a escritora e o tradutor de Kairos dividirão, em partes iguais, o prêmio de 50.000 euros.
A Analfabeta
Autora: Ágota Kristóf
Editora: Nós
País: Hungria/ Suíça
No cenário devastador da Segunda Guerra Mundial, a escritora húngara Ágota Kristóf narra em A Analfabeta sua busca por uma pátria e uma língua inalienáveis. Ela ansiava por palavras que verdadeiramente lhe pertencessem. Em uma série de breves depoimentos, Kristóf descreve sua infância fantasmagórica e pobre, marcada pela obrigatoriedade de aprender russo, idioma que tentou apagar sua língua natal. Ela relembra o luto estranho pela morte de Stálin e sua fuga para a Suíça no final dos anos 1950.
Como uma das mais importantes autoras europeias do século XX, Kristóf oferece um relato de formação pessoal e literária, afirmando com convicção: "É preciso continuar escrevendo. Inclusive quando não interessa a ninguém."
(Texto baseado na sinopse oficial da editora Nós)
Opinião do leitor
Se uma crítica fosse necessária, é que o livro é curto e eu leria mais 1000 páginas — Evelyn Sartori
Essa Coisa Viva
Escritora: Maria Esther Maciel
Editora: Todavia
País: Brasil
No aniversário de um ano da morte de sua mãe, uma botânica internacionalmente renomada decide enfrentar uma relação marcada por instabilidade, culpa e rancor. A tarefa não é simples e envolve uma enxurrada de memórias: cenas familiares, violência velada e a dolorosa consciência das armadilhas emocionais que nos machucam por muito tempo.
Neste romance tocante, Maria Esther Maciel usa "coisas" — plantas, objetos, insetos — para reconstruir o passado da protagonista. A mãe, figura central das lembranças, foi tanto vítima quanto algoz da própria filha, espalhando infelicidade e destruindo sua autoestima com reproches e cobranças.
Entre crônica familiar e reflexão sobre laços emocionais muitas vezes construídos pela violência, Essa Coisa Viva inventaria duas vidas unidas além das emoções, eternamente assombradas por eventos decisivos que as afastaram para sempre.
(Texto baseado na sinopse oficial da editora Todavia)
Opinião do leitor
Uma obra surpreendente, profunda e impactante. Universal! Só passando pela experiência da leitura envolvente para captar "essa coisa viva" que diz respeito, de uma maneira ou de outra, a todos nós: nossa relação inaugural é sempre com a mãe. "A mesma mãe que nutre, e a mesma que frustra", já dizia a psicanalista Melanie klain. — Juliana Borges Fiuza.
Livro de Junho da Maratona Ganimedes de Leitura 2024: Cidades Afundam em Dias Normais
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Nessa semana, na seção Ganimedes & Cinema, vou falar sobre uma estreia nacional LGBT+ que evocará reparação histórica com os gays dos anos 1980-2000. Já na seção Escrita & Técnica, faremos uma viagem para a Grégia antiga para responder uma pergunta fundamental sobre narrativa. E, para encerrar, o RAO 9001 vai indicar um clássico francês renomadíssimo.
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